segunda-feira, 12 de março de 2007

"Pais Legais” Têm Recursos Ilimitados

Estou dividindo com todos um texto maravilhoso do nosso amigo Marcos Susskind – do Grupo TIKVÁ - SP - que trata sobre o princípio do mês de Março.

Quando o telefone toca – é para seu adolescente. Quando a conta chega – é para você - Bruce Lansky

Chegamos pois ao Séc. XXI, a Era de Aquário! Vivíamos antes num mundo tenebroso. Pais falavam não a seus filhos, que eram obrigados a passar por tremendas frustrações. Todos nós, que fomos adolescentes nos anos 70, vivemos a grande revolução educacional e social – Summerhill, Woodstock, Revolução Cultural, Movimento de Maio da França etc. Era a total libertação e mudança de valores que nos fez prometer a nós mesmos que nossos filhos seriam educados de forma diferente. E buscamos com todas as forças fazer isto mesmo! Educar de uma forma diferente.

Agora somos pais de adolescentes de 13, 16, 18 anos. Outros têm 22, 25, 28 anos. Ou seja, “adolescente na prorrogação”, termo maravilhoso criado por Jackson Fullen. E muitos de nós, fazendo uma análise realmente desapaixonada, chegamos a uma pergunta desagradável: valeu?

Independente da resposta que tenhamos, cabem algumas considerações. Nós criamos nossos filhos com uma crença total e absoluta em recursos ilimitados. E agora, quando alguns deles se desviaram para o caminho do desrespeito, do “bater portas”, das drogas ou álcool – e principalmente para a crença que eles, os filhos, têm todos os direitos e quase nenhum dever – devemos nos perguntar: como consertar a situação?

Uma das coisas mais duras em nossa vida é ter de mudar de posição. Quem torce para o Santos FC não consegue se ver Palmeirense. Quem se vê como um executivo de grandes sucessos tem dificuldades de se enxergar com um ser humano falível. Mas a verdade é que nós, pais, precisamos rever conceitos para enfrentar realidades diferentes daquela imaginada por nós. Afinal, quando nossos filhos começavam a ir para a escola nós os víamos como futuros médicos, futuros administradores, músicos ou políticos – enfim, como seres de sucesso. Agora, quando a adolescência chegou de repente muitos de nós têm em casa jovens abusivos (verbal e fisicamente), negadores de autoridade, com comportamentos inaceitáveis e atitudes desafiadoras – mas não sabemos como lidar com eles. E tentamos seguir usando os mesmos métodos que não deram certo. Pior ainda: nos fechamos para que “ninguém saiba” dos nossos problemas. Claro que todo mundo vê as roupas esquisitas de nossos filhos, escutam os berros e as batidas de porta, notam que eles estão desleixados na escola, vêem nossos filhos em péssimas companias – mas nós, tal qual avestruzes, buscamos “esconder” nosso desconforto.
Pois é hora de reconhecer que nossos recursos são limitados. Fomos incentivados (por nós mesmos) a acreditar que somos infalíveis, somos deuses todo-poderosos, que podemos controlar o mundo que nos cerca – mas temos finalmente de enfrentar um dilema:
A) Mudar nossa forma de pensar e assumir o controle de nossa vida
B) Seguir imaginando-nos “poderosos” e ver a vida em nossa casa tornar-se um inferno.
O Amor-Exigente é um grupo de mútuo-ajuda para pais que mostra, de forma gratuita e desinteressada, a necessidade de revisão de conceitos e comportamentos nossos para termos influência na vida de nossos filhos. Um dos princípios é o dos “recursos limitados”. Ele diz:

“Nossos recursos físicos, emocionais, intelectuais e econômicos são limitados.”

Simples, não? Mas, será que a afirmação simples acima está incorporada em você?
Você reconhece que não é possível dar tudo que seus filhos querem, agüentar todas as pressões a que eles nos submetem, responder a todas as suas perguntas, acompanhá-los em todas suas atividades, ter paciência para todas suas músicas, “batidas de porta”, desculpas por terem tirado notas baixas etc.? Muitas vezes você não percebe que alguns desses recursos se esgotam. Se você não percebe, a tendência é de que você vai acumulando irritação, frustração, tristeza e amargura até que de repente você explode. Esta explosão não alivia suas pressões, mas o afastam de seus filhos e, geralmente, causam também desavenças com seu esposo (a).

O Amor-Exigente propõe uma alternativa. Pense, analise. Quais são seus próprios limites intelectuais, financeiros, físicos, econômicos, emocionais, tempo disponível etc.? Defina-os e comece a perceber quando estão chegando ao limite. Quando isto estiver ocorrendo, converse com sua esposa, com seus filhos. Antecipe-se ao problema, esclareça como se sente (sem explodir, sem se fazer de vítima, sem emoções ou sensação de mártir). Ao fazer isto você estará evitando problemas em casa. Além de estar ensinando seus filhos quais são seus limites – lhes dá uma oportunidade para que eles também percebam onde estão exagerando.

E como se faz isto? Veja alguns conselhos de Denise Witmer, de Parenting Teens:

Comunique os Limites: mas faça-o quando você e seu filho (a) estiverem “de bem”.
Deixe que seu filho (a) possa opinar: Muitas vezes queremos ditar regras. Quando o jovem participa na elaboração delas, é mais provável que ele (ela) a cumpram.
Seja Consistente: Às vezes nós abdicamos de fazer cumprir um limite porque estamos cansados ou chateados. Isto é inconsistência. Um limite estabelecido tem de ser SEMPRE cumprido até que seja mudado. Enquanto estiver em vigor, faça-o valer, mesmo se estiver cansado ou sem disposição para confrontos.
Seja Justo(a): O contrário do anterior. Não aumente os limites só porque está cansado (a). Se você acha que precisa mudar as regras, espere. Pense, converse, exponha. Não aja sob ímpeto do momento.
Não se esqueça de seus valores: Não se obrigue a fazer o que outros pais permitem. Uma fala consistente pode ser: “esta é nossa família, tua e minha. Temos nossas regras”. Algumas vezes você ouvirá: “Bem, eu preferia não ter sido desta família”. Não reaja. Respire fundo e esqueça. É parte do papel do adolescente te testar, apertar seus botões.

Usando os conselhos acima, você estará administrando os recursos emocionais. Lembre-se que outros recursos também são limitados. Conhecer estas limitações o fará mais previsível, menos explosivo e ainda diminuirá seus eventuais sentimentos de culpa.
“Pais legais” não são aqueles com recursos ilimitados. São aqueles que têm recursos limitados porém conhecidos tanto por si mesmo como por quem o cerca.

Se você quer aprender mais, procure um grupo de Amor-Exigente em sua região. É muito provável que em sua cidade (e seu bairro) exista um. As reuniões são gratuitas e abertas a todos. Não há cunho político, racial, religioso ou social. Seja bem vindo. Basta querer ser uma mãe melhor, um pai melhor ou então querer conversar sobre os problemas de seus filhos num ambiente acolhedor, cheio de compreensão e onde seu sigilo será preservado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei o artigo, pois explica como proceder com os filhos problemáticos, impondo limites sem perder a serenidade. Muita luz.
Um abraço,
Neide