segunda-feira, 9 de abril de 2007

Ninguém Me Viu!

Ninguém Me Viu!


“A mais terrível pobreza é a solidão e o sentimento de não ser amado.”
Madre Teresa de Calcutá


Quando lidamos com sentimentos e emoções, principalmente relacionados à dor da descoberta de um fato gravíssimo, principalmente com as situações que lidamos nos grupos de Amor-Exigente, precisamos ter um cuidado e atenção redobrados com as pessoas que nos procuram.
Pensando nisto resolvi escrever este texto tentando imaginar-me na situação de alguém que, ao procurar o grupo, não recebeu a atenção devida.

“Hoje, depois de muito tempo tentando reunir forças e coragem, resolvemos buscar ajuda para tentar entender o que está acontecendo com o nosso filho. Estamos nos sentido fracos, traídos, feridos, desamparados e já sem forças para trabalhar e cuidar do que restou da nossa família. Ficamos olhando para o passado tentando descobrir em que momento erramos na educação do nosso filho. Sempre demos tudo o que ele queria, além de estudar numa excelente escola e jamais imaginávamos que um dia ele pudesse entrar no caminho das drogas. Sempre demos amor, carinho e atenção. E hoje, estamos sem rumo por não entender como isto foi acontecer com a nossa família. O pior é você não poder contar para ninguém seja por medo, pois todos apenas nos julgam culpados pelo que aconteceu; ou por vergonha dos amigos e dos vizinhos sobre o que vão pensar sobre nós. Não é fácil reconhecer a incapacidade de lidarmos com esta situação e ter que buscar ajuda. E hoje, numa destas manhãs de segunda-feira em que a vontade de trabalhar é muito pouca, não por preguiça, mas por falta de forças mesmo, passando por vários canais da TV parei num programa onde falava sobre uma proposta comportamental chamada de Amor-Exigente. No programa uma pessoa destacava justamente o sentimento que eu e a minha esposa estávamos sentindo e a situação que estávamos vivenciando. Como o programa deu o endereço na internet resolvi pesquisar se na minha cidade tinha um grupo. Para a minha sorte tem. Falei com a minha esposa e resolvemos procurar o endereço do grupo e a reunião era justamente hoje a noite. Após mais um dia estressante, o nosso filho saiu no sábado e ainda não tinha retornado, cheguei em casa e peguei a minha esposa para ir conhecer este grupo. Saímos cedo para dar tempo de procurar o local da reunião. Encontramos o local e ficamos em frente ao salão da igreja olhando a porta que já ainda estava fechada.Faltavam ainda uma hora para começar a reunião. Mesmo assim ficamos olhando a porta tentando encontrar coragem para entrar quando ela se abrisse. E logo em seguida alguém abriu a porta e mais pessoas começaram a chegar. E eu e minha esposa olhando para a porta em silêncio, tentando imaginar como chegamos até esta situação. Fora é claro a coragem de entrar por aquela porta. Quando faltavam 15 minutos para começar resolvemos entrar. Como foi difícil passar por esta porta. Lá dentro várias pessoas já estavam sentadas. Sentamos bem no fundo da sala e perto da porta. Qualquer coisa saiamos e ninguém notaria. E ali ficamos em silêncio, num misto de apreensão e desconfiança. Não conhecíamos ninguém e ninguém nos conhecia. A aflição era tanta que, juntamente com o nervosismo, decidimos sair para tomar um ar. Chegando à rua resolvemos entrar no carro e ir embora. Como ninguém tinha nos visto mesmo, não vão sentir a nossa falta. Quando encontrarmos coragem, quem sabe um dia, voltaremos.”

Amigos de caminhada, não é intenção aqui fazer qualquer tipo de critica e sim despertar a atenção para um fato, aqui criado por mim, para que tenhamos um cuidado em recepcionar as pessoas que chegam aos nossos grupos.
A tentativa de criar o que passa pela vida de alguém que nos procura pela primeira vez, é para reforçar e redobrar a atenção nos grupos.
Receba as pessoas na porta. Transmita-lhes confiança com um abraço fraterno. Somos uma família e o abraço tem a força de uma expressão que pode dizer:

-Eu te recebo de braços abertos, pois sei da tua dor. Um dia eu também cheguei aqui da mesma forma que tu hoje chegaste. Eu te recebo e não farei nenhum julgamento. A partir de hoje, você não estará mais sozinho.

Percebam a força deste abraço e o significado do “Eu Vi Você” e te recebo do jeito que tu és.
Espero ter contribuído para que possamos melhorar cada vez mais a qualidade do trabalho maravilhoso que realizamos nos grupos de Amor-Exigente.

Um grande e fraterno abraço amigos de caminhada.

Sérgio Carlos de Oliveira (Serginho)
Coordenador do Programa do AE em SC

Nenhum comentário: